Em contraste com a crescente onda de avanços em direitos LGBTQIA+ em outros países da América do Sul, o Paraguai se mantém como um ponto fora da curva. O país demonstra uma forte resistência à agenda LGBTQIA+, ancorado em uma legislação e em políticas públicas que priorizam o modelo tradicional de família, consolidando-se como um bastião conservador na região.
A Constituição paraguaia define o casamento como a união exclusiva entre homem e mulher, impedindo o reconhecimento legal de uniões entre pessoas do mesmo sexo. Além disso, o país carece de leis abrangentes que protejam a comunidade LGBTQIA+ contra a discriminação, expondo essa população a maior vulnerabilidade.
Um relatório do Departamento de Estado dos EUA criticou a falta de proteção legal para pessoas LGBTQIA+ no Paraguai. No âmbito educacional, o currículo nacional omite qualquer menção à diversidade sexual, o que gerou críticas de organizações internacionais.
A senadora paraguaia Esperanza Martínez classificou o currículo escolar como “uma afronta à ciência e aos direitos das crianças e adolescentes”. Setores religiosos e conservadores exercem forte influência no debate público, o que se reflete nas políticas do governo.
O apoio popular ao casamento igualitário é um dos mais baixos da América do Sul, segundo a Anistia Internacional. O parlamento paraguaio chegou a discutir um projeto de lei para proibir a “promoção da ideologia de gênero”, mas a proposta foi criticada como uma ameaça à liberdade de expressão.
Apesar das críticas internacionais, muitos paraguaios defendem a postura conservadora do país. Eles argumentam que o debate público é livre e que há espaço para diferentes perspectivas, preservando a pluralidade democrática.
O atual governo do presidente Santiago Peña defende a “família como núcleo essencial da sociedade” e se opõe a avanços em pautas de diversidade de gênero. A ativista trans Yrén Rotela descreveu a cultura paraguaia como uma onde “homens são homens, mulheres são mulheres, e qualquer outra coisa é vista como uma ameaça à ordem”.
Organizações de direitos humanos reconhecem que o Paraguai possui liberdades civis e políticas efetivas, incluindo liberdade de associação e de expressão. ONGs de defesa da população LGBTQIA+ atuam livremente no país, participando de fóruns institucionais.
A sociedade paraguaia permanece ancorada em valores conservadores e na defesa da família tradicional. Essa postura se reflete na condução do Estado, nas políticas públicas e na legislação, diferenciando o país do restante do continente.
O Partido Colorado, força política dominante no Paraguai há décadas, representa essa orientação conservadora. Fundado em 1887, o partido defende a ordem, a família e os valores cristãos, funcionando como uma âncora institucional frente a agendas progressistas.
A resistência do Paraguai a agendas progressistas é atribuída à falta de adesão popular, não a mecanismos repressivos. A maioria da sociedade paraguaia não se identifica com discursos que desconstroem o modelo familiar tradicional.
O cristianismo, com predominância católica e crescente número de evangélicos, exerce um papel fundamental na sociedade paraguaia. Igrejas oferecem apoio comunitário, cursos profissionalizantes e ações para famílias em situação de vulnerabilidade.