Luiz Augusto Campos propõe grupos de trabalho para avaliar impacto das cotas
A proposta de monitorar ex-cotistas é defendida por Luiz Augusto Campos, da Uerj, para avaliar a eficácia das cotas.
Monitoramento da trajetória de ex-cotistas é essencial
O monitoramento da trajetória de ex-cotistas é uma proposta defendida pelo sociólogo Luiz Augusto Campos, um dos principais pesquisadores da política de ação afirmativa na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Segundo ele, a criação de grupos de trabalho para acompanhar os egressos dessa política é vital para a avaliação de sua eficácia. Campos, que também é um dos organizadores do livro “Impacto das Cotas: Duas Décadas de Ação Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro”, destaca os desafios que ainda persistem, como a permanência dos estudantes nas instituições de ensino superior.
“A Lei de Cotas não é uma política fim”, afirmou Campos. “Ela é um meio para reduzir desigualdades no mercado de trabalho”, explicou ele. Para o sociólogo, se as cotas não gerarem impactos positivos fora da universidade, significa que a política pública não está alcançando seus objetivos. A compreensão desses impactos, segundo Campos, depende do acompanhamento das trajetórias dos egressos.
Necessidade de revisão da lei estadual
Após duas décadas da implementação da política na Uerj, Campos ressalta a urgência de uma atualização na lei estadual que regulamenta o ingresso na pós-graduação. Diferentemente de outras universidades federais que aplicam cotas raciais, a Uerj combina a autodeclaração racial com critérios socioeconômicos, limitando a entrada a candidatos com renda bruta familiar de até R$ 2.277. Este valor é considerado insuficiente, especialmente para as cotas sociais e raciais em níveis de pós-graduação.
“Um estudante classificado como carente não chega ao mestrado, quanto mais ao doutorado. Se ele ganha uma bolsa, ele deixa de ser carente”, analisou Campos, destacando que as cotas na pós-graduação da Uerj não têm funcionado como deveriam.
Reunião de ex-cotistas em busca de mudanças
Recentemente, cotistas egressos dos cursos de graduação se reuniram na Uerj para discutir suas experiências e defender a revisão do corte socioeconômico, com o objetivo de aumentar o número de pessoas pretas e pardas no ensino superior. Dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) mostram que as desigualdades persistem: apenas 4,1% dos mestres e 3,4% dos doutores são pessoas pretas, enquanto os pardos representam 16,7% e 14,9%, respectivamente.
Futuro das ações afirmativas
A Lei 8.121, de 2018, que estabelece as ações afirmativas na Uerj, só será revisada em 2028. Até lá, Campos sugere que as universidades utilizem sua autonomia para revisar as restrições nos editais de ingresso. Ele alerta que a judicialização das entradas em cursos de mestrado e doutorado pode trazer riscos à instituição. “O ideal seria uma lei mais flexível em relação aos limites socioeconômicos”, concluiu Campos, enfatizando a importância de um acompanhamento efetivo das trajetórias dos ex-cotistas para garantir a eficácia das políticas de ação afirmativa.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br
Fonte: Fernando Frazão/Agência Brasil
