Núcleo de gelo revela mistérios das geleiras resistentes

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Estudo sobre geleiras no Tajiquistão pode explicar fenômenos climáticos.

Um núcleo de gelo de 105 metros pode explicar o comportamento atípico das geleiras no Tajiquistão.

Estudo inédito sobre o núcleo de gelo

Um núcleo de gelo com impressionantes 105 metros de comprimento, coletado nas geleiras do Tajiquistão, tem o potencial de revolucionar a compreensão das mudanças climáticas. Enquanto a maioria das geleiras do planeta está em rápida retração, este fenômeno atípico levanta questões sobre os fatores que permitem que algumas geleiras resistam e, em certos casos, até cresçam. A pesquisa é conduzida por uma equipe internacional, liderada por cientistas japoneses, que busca respostas nas camadas internas desse gelo ancestral.

A anomalia Pamir-Karakoram

O núcleo foi extraído da calota de gelo Kon-Chukurbashi, localizada nas montanhas Pamir, a 5.810 metros de altitude, uma região que se destaca por não seguir a tendência global de derretimento. Conhecido como a “anomalia Pamir-Karakoram”, esse fenômeno intrigante é o foco do estudo, que visa entender como essas geleiras conseguiram evitar o derretimento acelerado que afeta a maioria das formações de gelo ao redor do mundo.

Durante uma expedição em 2025, os pesquisadores perfuraram a geleira e extraíram duas colunas de gelo, com uma sendo enviada para um santuário subterrâneo na Antártida, enquanto a outra foi levada para o Instituto de Ciência de Baixas Temperaturas da Universidade de Hokkaido. No laboratório, sob a orientação do professor Yoshinori Iizuka, a equipe analisa as camadas de gelo para identificar as causas do aumento da precipitação na região ao longo do último século.

Investigando as causas do crescimento

Os cientistas trabalham com a hipótese de que o clima naturalmente frio do Tajiquistão, além do uso intensivo de água agrícola no Paquistão, pode estar contribuindo para o aumento da umidade atmosférica, favorecendo a resistência das geleiras. Essa investigação se torna ainda mais significativa, uma vez que os núcleos de gelo representam uma oportunidade única de testar essas teorias. Cada camada do gelo atua como um registro histórico, revelando informações sobre períodos de aquecimento e resfriamento, além da quantidade de precipitação ao longo do tempo.

Camadas transparentes indicam períodos quentes, enquanto camadas menos densas refletem acúmulo de neve. Além disso, a presença de materiais vulcânicos e isótopos de água oferece pistas sobre as condições climáticas do passado.

Expectativas e desafios

Os cientistas esperam descobrir amostras com até 10 mil anos de idade, embora parte da geleira tenha derretido durante um período mais quente há cerca de 6 mil anos. O que os pesquisadores encontram pode fornecer informações valiosas sobre as condições climáticas da última era do gelo, revelando o tipo de neve que caía na região e a composição da atmosfera na época.

Desde a chegada das amostras ao Japão em novembro, o processo de análise tem sido meticuloso e delicado, realizado em ambientes com temperaturas extremas de −20 °C. A equipe está focada em desvendar a densidade, estrutura e composição química do gelo, com a expectativa de que os primeiros resultados sejam divulgados no próximo ano. Além disso, as amostras guardadas na Antártida poderão ser utilizadas em estudos futuros, investigando os impactos históricos das atividades humanas na qualidade do ar e nas precipitações da região.

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