Na Bahia, a moda se tornou campo de batalha. Facções criminosas estão ditando o que pode ou não ser usado, transformando marcas e símbolos em declarações de guerra e colocando cidadãos em risco.
O uso de produtos Adidas, em especial, virou alvo de violência em Salvador. A marca, antes sinônimo de esporte e estilo, agora é associada ao Bonde do Maluco (BDM), facção que atua na região da Pituba, expondo usuários a represálias.
Um comerciante relatou ao portal Correio ter sido ameaçado na Rua Pará por usar uma camisa da Adidas. “Ele disse: ‘aí é três e aqui nós somos dois. Cuidado’”, recorda o homem, numa alusão à rivalidade com o Comando Vermelho (CV), que domina áreas vizinhas. O incidente demonstra como a disputa territorial se manifesta até nas escolhas de vestuário.
Casos de violência motivados por símbolos associados a facções se multiplicam. Em Saubara, um jovem foi morto por vestir uma camisa do Mickey Mouse, supostamente ligada ao grupo A Tropa. Em Salvador, estudantes abandonaram a escola após adotarem o costume de riscar as sobrancelhas, um gesto associado ao BDM.
A situação se agrava com o histórico de violência. Em 2022, um adolescente foi assassinado em Águas Claras por usar cores de uma facção rival, e outro jovem perdeu a vida em Simões Filho por usar um boné com a estampa de um grupo criminoso adversário. Em outubro de 2024, os irmãos Daniel e Gustavo Natividade foram mortos em Camaçari por fazerem o “sinal do 3”, interpretado como provocação pelo CV.
Diante da escalada da violência, o Conexão Política busca respostas das autoridades. Tentamos contato com a Prefeitura de Salvador e o Governo da Bahia para saber se há registros formais de ameaças, agressões ou mortes motivadas pelo uso de símbolos associados a facções criminosas e se medidas estão sendo tomadas para conter essa onda de intimidações.